Na manhã de quarta-feira, 23 de outubro de 2024, o Brasil perdeu uma de suas vozes mais distintivas e influentes na literatura e na filosofia contemporânea.
Antonio Cicero, renomado poeta e pensador, faleceu aos 79 anos, deixando um legado profundo e duradouro na Academia Brasileira de Letras e na cultura brasileira em geral.
Uma Carreira de Excelência e Busca pela Verdade
Cicero ingressou na Academia Brasileira de Letras em 2017, solidificando seu papel como um dos principais intelectuais do país.
Foi não apenas um poeta de habilidades impressionantes, mas também um filósofo que desafiava constantemente as fronteiras entre esses dois campos do conhecimento. Antonio Cicero tinha um talento nato para incorporar referências clássicas em seus escritos, enquanto mantinha uma conexão vibrante com a produção musical contemporânea.
Seus estudos na Pontifícia Universidade Católica e na Universidade Federal do Rio de Janeiro refinaram seu conhecimento, mas foi sua experiência na Universidade de Londres que moldou muitas de suas ideias filosóficas e literárias. Na época, ele vivenciou o exílio durante a ditadura militar do Brasil, evento que marcaria sua visão de mundo e trabalho.
Influência na Música Popular Brasileira
Cicero não apenas deixou sua marca na literatura, mas também na música. Ele é irmão da famosa cantora e compositora Marina Lima. A colaboração entre os dois gerou inúmeros sucessos da música popular brasileira. Obras como “Fullgás” e “Pra começar” continuam a ressoar nas playlists de muitos brasileiros. Conheça mais sobre Marina Lima e sua carreira musical.
Impacto pessoal
Nos últimos anos de sua vida, Cicero lutou contra o Alzheimer, uma doença neurodegenerativa que infelizmente impactou sua memória e habilidades cognitivas. Apesar das dificuldades, ele manteve uma compreensão clara de sua situação, optando por realizar a eutanásia em Zurique, na Suíça. Esta decisão foi comunicada em uma carta de despedida a amigos próximos, destacando sua busca incansável por dignidade na vida e na morte.
Carta de despedida
O poeta deixou uma carta, com o marido, para que fosse divulgada após sua morte. Leia abaixo:
Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas — senão a coisa — mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los. Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!
A vida e obra de Antonio Cicero continuarão a inspirar e desafiar aqueles que exploram o intricado mundo da poesia e da filosofia. Sua contribuição para a Academia Brasileira de Letras e a cultura brasileira não será esquecida.
Fonte: O Globo